Apagaram as luzesSe propusermos um debate sobre as questões positivas e negativas
da Modernidade, teremos que passar boa parte do tempo falando
desse que talvez seja um dos assuntos mais complexos da
atualidade. Antes de tudo devemos conceituar modernidade. Aqui,
trago para tal o conceito de Max Weber que diz que a Modernidade
“se constitui, pois, no resultado daquele processo de racionalização
preconizado pelas Luzes – ligação do conhecimento patrocinado
pelas ciências com os valores universais de progresso social e individual
– que redundou em enormes modificações não só na sociedade
como também na cultura”. Eu, particularmente, sou um adepto
aos ideais da modernidade uma vez que o conhecimento científico
é conseqüência desse processo de racionalização. Todavia, não
devemos nos abster de pontuar os aspectos não muito iluminados
da Modernidade em si. Seu projeto é algo encantador, porém as
mesmas mãos que acenderam as luzes foram as que a apagaram.
O projeto da modernidade nasce no Iluminismo, cheio de ideais positivos,
belos e universais que servirão de sustentáculos para a Revolução
Francesa. Liberté, egualité e Fraternité, (esse último que
possui um significado ainda mais profundo que na língua inglesa se
expressa por brotherhood, ou seja, irmandade), não são vistos na
prática do homem moderno. Servem apenas como embelezadores
dos propagandistas da modernidade, que se dizem “espíritos livres”,
a quem Nietzsche chama de “escravos facundos e plumitivos
do gosto democrático e de suas idéias modernas”. Não é possível
que haja liberdade, igualdade e muito menos irmandade quando
intrinsecamente ligado á modernidade está o Capitalismo, o inexorável
carcereiro do “cárcere de ferro” de Weber. Presos em suas
jaulas os homens modernos gritam, mas como retratado por Edvard
Munch, esse grito ecoa apenas em torno de si, porém as estruturas
concretas e os outros homens sequer são sensibilizados, muito antes
pelo contrário, encontram-se distante, separados como por um
campo eletromagnético. E por falar nisso, a modernidade trouxe
consigo a aclamação ao Antropocentrismo, que no projeto da Modernidade
era mais um ponto a contar positivamente, porém serviu
apenas para fazer de cada homem como um Sol: sendo o Centro e
tendo os outros girando a sua volta, porém de maneira tal que não
podem se aproximar, pois existe um campo de separação, uma força
que os impede de aproximarem-se. É por isso que apenas ele é
sensibilizado pelo próprio grito. Sou constrangido a fazer das palavras
de Nietzsche as minhas nessas linhas conclusivas, quando o
mesmo diz que “a essência eterna e imutável da humanidade encontrava
a sua representação adequada na figura mítica de Dionísio:
Ser a um só e ao mesmo tempo destrutivamente criativo”.
E para finalizar eu pergunto-nos, adeptos à modernidade: Existe
algum benefício vindo da modernidade que em suas entrelinhas
não ofereça-me subsídios para atacá-la? Antes que respondamos
sobre o desenvolvimento científico, devo argumentar que a sociedade,
lato sensu, sempre existiu antes do desenvolvimento científico.
Podemos pensar: e quanto à cura de doenças? Eu devo lembrar-
nos sobre os meios muitas vezes utilizados para obtê-la em
nome da modernidade, como nos campos de concentração alemães
durante o regime nazista. Podemos pensar: e quanto ao desenvolvimento
racional do homem? Argumento que este, dentre outras
coisas, intensificou o antropocentrismo criando um “campo
magnético” entre os homens, deixando-os distantes um dos outros
e atraindo-se como um ímã aos metais do cárcere.